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  • IzaBeats

O Ecossistema do Lo-Fi - III

Chegamos ao terceiro capitulo da série escrita por IzaBeats, onde ela aborda o tema 'artistas visuais', mostrando um pouco sobre as 'artes de capas'.


Arte por: Paula Botelho (Álbum: Urbanscape - Pelicano)


A música não costuma ser uma arte fechada em si mesma. Ela costuma se unir em complemento com outras formas de expressão, um exemplo disso é a intimidade que a música clássica ocidental possuí com a arquitetura, e como ela influencia a música em sua acústica, que por sua vez é composta, como na idade média para ser interpretada em catedrais góticas, e para soar bem nas mesmas. A arquitetura também encontra afinidade na música quando falamos de luteria, e como a arquitetura do instrumento influencia no seu timbre e textura.


Estou partindo deste exemplo para mostrar como artes que às vezes nem imaginávamos estão tão bem integradas, mas que existem conexões mais claras, como a música e o cinema, a música e a dança, a música e jogos eletrônicos... Todas elas em um estreito relacionamento de influência e interação.


Agora gostaria de trazer essa reflexão mais próxima de nós, lofizeiros do século 21, estou falando de música e imagem. Muitos produtores brasileiros tem tido o cuidado de interligar com maestria esses dois lados da moeda, seja com fotografias impecáveis, lettering e especialmente com ilustrações.


A música Ipanema, composta e produzida por Linearwave, é um desses exemplos de capa que carrega uma história por trás, a foto foi tirada pelo também produtor FaOut tratando-se de uma imagem que foi tirada em um momento difícil mas que hoje virou símbolo de amizade entre os dois e do sucesso da Tangerina Music. Outro exemplo é a capa da minha primeira música "Coisa Nova", ela foi fotografada pelo meu marido no nosso primeiro encontro há cinco anos, quis usar essa capa como um lembrete de que eu estava iniciando uma nova fase, que seria bela assim como o meu relacionamento.


Aqui no Brasil temos artistas que vem se destacando quando o assunto é trabalhar a relação entre a música e a ilustração. Também neste sentido vai a minha grande admiração para os projetos de Léo Franciozi e Pelicano, que trabalham como equipe com os artistas Nunodoo e Paula Botelho, respectivamente, que são nossos convidados de hoje!


"A junção do que a gente escuta e o que a gente vê, mexe com nossos sentidos, um potencializa o outro. Por isso eu sinto que as ilustrações “ganham vida” quando tem a música junto." Paula Botelho

A Paula é de Juiz de Fora e trabalha com produção artística desde 2015, ela só começou a se envolver ativamente com o Lo-Fi em 2020 por influência do Erik (Pelicano) e Carbogim, que na época davam seus primeiros passos nos beats, meses depois ao ser convidada para criar as capas do álbum 'Urbanscape' do Pelicano, Paula começou a ter um contato maior com produtores que também queriam capas e assim foi se estabelecendo no meio, o qual é hoje uma das principais representantes no tangente das artes visuais!


"Acho que todas as artes se relacionam no âmbito de expressão, sentimento e política. Mas sinto que algo de especial acontece com materiais audiovisuais. A junção do que a gente escuta e o que a gente vê, mexe com nossos sentidos, um potencializa o outro. Por isso eu sinto que as ilustrações “ganham vida” quando tem a música junto." Paula Botelho


É indiscutível a intimidade que as artes visuais possuem com a música, o álbum 'Urbanscape' é um exemplo claro de como as capas acompanham o álbum formando uma paisagem que se desenvolve conforme o desenrolar do mesmo. Essa paisagem acompanha o ouvinte durante toda a evolução da história que Erik e Paula nos contam.


Essa é uma comunicação que nós, artistas de um gênero, que em sua maioria se trata de músicas instrumentais, devemos ter como essencial. Ao buscarmos uma comunicação não verbal, porém clara com quem nos escuta muitas vezes contribuímos para uma relação mais íntima entre música e ouvinte.


"Uma imagem vale mais que mil palavras, né? A capa tem o poder de trazer em imagem, o que as músicas trazem com melodias e batidas. A capa pode dar “vida” ao sentimento que a música nos passa" Nunodoo

Bruno Nicolau, de Campo Grande - MS, é o artista por trás do projeto Nunodoo e embora seja muito jovem (23 anos) já trabalha no meio artístico há mais de nove anos. Dono de um traço à primeira vista desambicioso, ele demonstra através de suas artes um estilo maduro e muito característico.


"Eu conheci o Lo-Fi produzindo, teve um dia que eu estava em casa desenhando e procurando músicas para escutar, até que eu encontrei um artista chamado Wun Two, quando eu escutei o primeiro som dele, eu já achei aquilo uma coisa de outro mundo, lembro até hoje que eu fiquei horas escutando a mesma música, depois disso, eu quis aprender a produzir também, e gradativamente fui mergulhando nesse mundo. Eu percebi que o Lo-Fi anda muito ligado com a cultura da ilustração, tendo várias capas de álbuns sendo desenhos, e isso me fez ter curiosidade em como eles se conectavam. Depois de um tempo, tive a oportunidade de produzir as capas do mano Leo Franciozi, um baita produtor, e sigo nessa caminhada até hoje, sempre aprendendo e tentando melhorar.’’ Nunodoo


Para a nossa alegria Nunodoo e Leo Franciozi seguem com essa parceria forte que tem rendido bons frutos, um exemplo de trabalho dessa dupla é o EP "Metrópolis" do produtor Leo Franciozi com Vitor Cali e capa do Nunodoo, que resultou em um trabalho impecável que não deixa a desejar desde a capa até às músicas!


"Num sentido mais prático da distribuição dessas produções, vivemos na era das imagens, do feed, do entretenimento... fica difícil tirar a capa dessa equação e ainda ter ‘alcance’. Além disso, acho que as artes visuais fortalecem uma estética por trás dessas produções. Esse conjunto de contexto, imagem, som, social, etc. Ter essa estética, então, estabelece o que é “Lo-Fi” no imaginário das pessoas." Paula Botelho


Segundo a Paula, e eu vou precisar concordar, é muito difícil desassociar a música da capa, pois afinal de contas nós vivemos na era audiovisual, por isso é muito importante que o produtor cuide do seu lançamento com muito carinho não apenas no quesito musical, mas também na parte visual, sempre valorizando o trabalho desses profissionais como a Paula, o Nunodoo e muitos outros que muito tem contribuído a favor da nossa cena!


"Eu acho que o desenho é também uma parte do Lo-Fi, onde um complementa o outro, se você escutar uma música olhando para a capa dela, você pode ser colocado em um lugar totalmente novo, imaginando e tendo sensações. Os desenhos juntos com o Lo-Fi abrem caminhos para um tipo de arte que sempre é muito especial, íntimo e que mostra todo o carinho que temos pelas coisas que gostamos de fazer." Nunodoo


Pra finalizar, o recado é pra você ilustrador, que também gostaria de fazer parte do universo Lo-Fi. A Paula juntamente com a equipe do selo Colours in the Records, do qual ela faz parte como ilustradora, disponibilizou recentemente um espaço de contato entre produtores e ilustradores no canal do discord ‘colours community’.


"Fiquei muito feliz de ter essa ponte agora, tem lugar pra deixar seu portfólio, pra vender arte sua pronta e claro, facilitar esse contato." Paula Botelho

Eu me despeço por aqui, mas deixo essa pergunta pra você responder aí embaixo nos comentários: Você, já se sentiu motivado(a) a escutar um single ou álbum por causa da capa?


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