O assunto em pauta dessa semana está gerando grande discussão no mundo da música, principalmente no Lo-Fi: Streamings falsos e como eles afetam a cena indie.
STREAMING FALSOS, FAZENDAS DE CLICKS
Manipulação de streaming, artistas fantasma, fazendas de clique... quem trabalha com distribuição digital de música com certeza já esteve envolvido em algum debate a respeito desses temas que envolvem o nosso novo modelo de consumir música. Mas, como isso afeta os artistas indie e a cena Lo-Fi Hip Hop?
Nos moldes do streaming, há um pote a ser dividido entre os artistas. Se formas ilegítimas de manipulação dos plays se tornam significativas, isso começa a ser um problema para artistas independentes que estão em busca da fatia que merecem.
Se você considerar ainda a discrepante influência das grandes gravadoras em comparação à cena indie, cria-se uma barreira ainda maior para os novatos que jogam conforme as regras.
Mas o que são streams ilegítimos? No contexto que estamos hoje, isso pode se dar de diversas formas, algumas sutis e objetivamente injustas, outras que encontram tanto críticos quanto defensores, e levam a longas discussões no Twitter. Por exemplo, redes são criadas por ‘playlisters’, que prometem ‘x streams’ por mês por uma quantia em dinheiro (muitas vezes abusiva). Isso é visto pelas plataformas como ilegal, porém pouco se faz a respeito e é um modus operandi de muitos nichos musicais, tendo o Lo-Fi como exemplo.
Apesar do pagamento por colocação em playlists ser uma ferramenta de manipulação, ainda sim são números que vem de usuários reais na plataforma. Um caso menos elegante seriam streams gerados por fazendas de click (click farms) e robôs, que frequentemente poluem as reproduções legítimas com fakes, resultando em verdadeiras atrocidades: artistas que pulam de 3k para 30k de reproduções, durante alguns dias (se acabou o streaming, já sabe que acabou o dinheiro). Em um sistema de remuneração por “pote”, você está roubando de artistas que conseguiram seu streaming de forma legítima.
Hoje em dia, a tecnologia está tão avançada, que é cada vez mais impraticável diferenciar os plays legítimos dos falsos. Esses números podem estar vindo tanto de usuários falsos, criados com esse fim, ou até mesmo de usuários reais, que por algum descuido de vulnerabilidade tem sua conta acessada por um terceiro mal intencionado.
O resultado é que os números por si só tenham cada vez menos sentido, caso não seja possível controlar essa tendência. Diariamente, novas formas aparecem para crescer sem investir em um projeto musical sólido ou um conceito artístico identitário, e o importante acaba sendo comprar um lugar no pódio e pular etapas naturalmente fundamentais para o crescimento das pessoas envolvidas no projeto musical. Música feita para vender e não para sentir.
"Como artista, não serei hipócrita a ponto de dizer que a música como modelo de negócio é algo a ser combatido, afinal muito do que os artistas conseguem alcançar vem com investimento e impulsionamento de gravadoras, isso não é algo de hoje." Pelicano
Mas veja, o ponto nem é esse, o ponto é que o compositor, o produtor musical, a arte, estão sendo jogados de canto, porque a tendência é continuar favorecendo aqueles que já detêm o monopólio, e historicamente esse tipo de lógica leva a uma estagnação dos estilos musicais e da música em geral. Fora que, como dito, a cena independente recebe menos dinheiro.
ARTISTAS FANTASMAS
Imagine assim: você tá na sua casa, ouvindo uma playlist para relaxar, até que ouve uma música que gosta muito. Então, você vai na página do artista e encontra 300 mil ouvintes mensais, porém nenhum link para nenhuma rede social. Provavelmente, trata-se de um ghost, ou artista fantasma. (As chances são de que essa playlists que você estava ouvindo foi criada pelo... Spotify!)
Já existiram rumores na mídia de que o serviço estava encorajando e até mesmo pagando artistas para produzirem musicas sob guias específicas, para serem lançados por artistas falsos, tudo feito de uma forma impossível de ser rastreada, mas tudo foi negado por eles. Não é raro, principalmente no Lo-Fi, que essa prática aconteça, o que por si só não aparenta estar errado, afinal, não continuam sendo músicas feitas por artistas?
O problema pode ser entendido melhor quando se observa uma das principais ferramentas que um artista independente tem para reconhecimento do seu trabalho: as playtlists editoriais, assunto que já rendeu outro artigo no nosso portal. É a exposição dentro das próprias plataformas de streaming que representa a maior vitrine hoje a um projeto musical promissor. O jovem brasileiro, por exemplo, de dentro do seu quarto, com um estúdio simples montado às custas de muito trabalho, já concentra uma infinidade de dificuldades e desmotivações pra levar sua paixão a frente, e no Lo-Fi ele encontra uma oportunidade de finalmente ter um retorno financeiro do seu trabalho, além do reconhecimento da comunidade. Não é preciso dizer o quanto é desmotivador saber que uma de suas playlists favoritas tenha, por exemplo, 40% do seu repertório composto por artistas gigantescos que, através de um nome genérico e nenhuma interação com a comunidade, jogam uma cortina de fumaça e se passam como mais um jovem de apartamento que teve seu projeto musical reconhecido e premiado em um nicho. Mas não são.
A matéria consultada estima que 3 a 4% "do streaming" venham de formas ilegítimas. Isso pode ser visto até como algo pequeno, porém é amplamente praticado no Lo-Fi. Não estranhe se essa porcentagem for 10 a 15% no nosso querido nicho. Como é impossível ter acesso a essas informações nos detalhes, nos resta fazer o nosso trabalho bem feito e em dobro, como sempre fizemos. A cena independente sempre existirá, e cabe a nós representar a parte orgânica da conexão com um artista, para que não sejamos engolidos pelas lógicas duvidosas de reconhecimento do nosso trabalho.
REFERÊNCIAS
Para mais informações das questões abordadas neste texto, recomendo a leitura dos artigos abaixo. É sempre bom trazer informação com clareza e com conhecimento.
Playlist da semana: Editorial da Deezer BR - Foco no Estudo
Ótima matéria!
Adorei a matéria! Importantíssimo ler e debater sobre essa questão no nicho Lo-Fi.
Matéria excelente e importantíssima no momento atual!