Pelos olhares atentos de Erik Seifer (Pelicano), saiba quem somos nós e conheça um pouco mais da história por trás da criação da comunidade brasileira de Lo-Fi.
Arte por @Pazuzu094
A distinção de obras musicais em gêneros vem da necessidade do ser humano de categorizar o mundo e as coisas a seu redor. Acontece sempre que objetos, organismos ou acontecimentos diferentes são agrupados devido a uma certa semelhança ou proximidade, facilitando seu estudo, sua difusão e sua comercialização. John Zorn, por exemplo, escreveu em Arcana: musicians on music que gêneros são ferramentas usadas para "comercializar uma visão pessoal complexa de um artista".
Nesse sentido, agrupar os artistas do Lo-Fi foi muito importante para que o nicho ganhasse força como comunidade e como parte integrante do mercado musical, somando-se a isso a essencial criação de selos musicais que focassem nesse “metagênero”. Basta olharmos, por exemplo, para a MPB, que assim como o Lo-Fi, tem suas produções musicais não homogêneas, não seguindo um padrão ou regras de produção musical, mas com foco no movimento artístico, seus integrantes, e características culturais. Isso proporciona uma grande liberdade aos seus integrantes ao mesmo tempo em que confere um mistério a tudo que se relaciona a ele.
Uma tendência natural e necessária desse movimento coletivo acaba sendo, também, a criação de selos musicais. Existem diversos tipos no Brasil, com diferentes níveis de envolvimento, desde aqueles destinados a nichos específicos, outros para músicas ao vivo, alguns focam na ideologia... Diversas formas diferentes de fazer o meio de campo entre o artista e o público, alguns se envolvendo mais com o processo artístico, outros com curadoria mais segmentada, outros com foco no mercado, ou seja, não há regra.
Um ponto crucial a ser discutido é que, hoje em dia, a maioria dos selos e gravadoras investem em artistas e bandas que já estão em estágios mais consolidados de carreira e musicalidade, sendo raro encontrar um que foque em desenvolver a carreira artística desde o começo.
É com essa filosofia que surgiu o selo Lo-Fi Brasil que, em sua essência (e urgência), busca abraçar novos talentos que tenham vontade de crescer na cena mas não encontram meios ou direcionamento para tal. E perceba: nosso papel nunca será o de dizer o que é certo ou errado, e sim de criar condições favoráveis para que a individualidade possa se desenvolver e entregar um resultado final que tenha impacto e que passe a mensagem: o Brasil, como sempre, tem muito a oferecer musicalmente.
Nesse momento, é essencial ressaltar aqui o nome da Tangerina Music. Selo musical criado por Fábio Bittencourt (RJ) em 2019 que, inicialmente, tinha o objetivo de lançar suas próprias músicas criadas a partir de 2018, sem depender de terceiros e que, naturalmente, foi aglutinando produtores que tinham a mesma visão: o foco na arte e no desenvolvimento pessoal e artístico de cada artista envolvido, e a difusão de Lo-Fi e suas vertentes, como o chillhop e a música ambiente, no Brasil. Seu trabalho orgânico (leia-se: se baseando na relação interpessoal e capacidades individuais, sem investimentos financeiros ou envolvimento de empresas) inspirou a criação de outros por aqui, assim como deu força a um movimento que antes se via marginalizado do cenário musical e, agora, começa a ver os frutos desse esforço.
SELO LOFI BRASIL
O nome Lo-Fi Brasil começou como uma página no Instagram, criada por Yuri Bastos (Linearwave), e hoje a equipe tem crescido e sua atuação se diversificou. A criação do selo musical tem como objetivo complementar o trabalho que a Tangerina Music vêm fazendo pelo gênero no país. Se você acompanha a cena, já deve ter notado o surgimento de cada vez mais produtores interessados em participar do movimento, e apesar de já estar abraçando os artistas brazucas e fornecendo meios deles serem mais ouvidos, o volume de submissões à Tangerina tem sido astronômico, e não é necessário dizer que lançar todo mundo diminui o alcance como um todo. No fim das contas, é tudo uma coisa só, já que quem está envolvido com ela, também está envolvido conosco.
A essa altura, já deu pra perceber que a gente funciona como um olheiro de futebol, que tá de olho nos talentos promissores para fazer parte dessa grande equipe.
É comum ouvirmos falar que os outros estilos musicais são elitistas e até mesmo egoístas, se fecham e veem o fim em si mesmos, além de não estarem atentos às novas demandas do streaming moderno. Nós, como coletivo, vamos na contramão disso, buscando sempre o fortalecimento de marca baseado no individual, com a finalidade de potencializar o mesmo individual, humano, próprio de cada um. Faz sentido?
Bom, mas chega de falar da gente, afinal, o foco são os artistas! Bora falar de lançamento, já que o selo já conta com dois deles: ‘Oya’, por Linearwave e ‘Dezenove Horas’, por DJ Lagoa, ambos com nome já consolidado na cena e referências pra quem chega! Mas hoje queremos falar de um produtor que vem do sertão do Ceará, cheio de musicalidade e pronto pra somar com a cena: Seuab. Com o single “Sertão” pra sair nessa sexta-feira, dia 30 de Julho, o convidamos a nos contar um pouquinho disso tudo!
Meu nome é Abraão, também conhecido como Seuab. Tenho 21 anos, nascido na cidade de Pedra Branca, que fica no Sertão Central do Ceará. Desde de que me entendo por gente a música faz parte da minha vida. Cresci ouvindo rap por influência dos meus pais e também ouvia bastante Rock. Ainda quando mais novo, toquei violão/guitarra em alguns eventos da minha cidade com uma banda formada por meu professor de violão e também toquei durante um tempo na igreja. Comecei a fazer minhas primeiras batidas em 2016. De lá pra cá ficava de tempos sem produzir e sem buscar uma evolução. Hoje estou mais firme no que eu quero. Fazer música é algo que eu amo e que nunca vou deixar de lado.
De fato, a sonoridade do Lo-Fi foi algo que mais me cativou. A simplicidade nas batidas, nos samples e o sentimento que o som nos transmite... Por não ter muitos equipamentos pra produzir, a música Lo-Fi mostra que podemos fazer algo lindo com o que temos em mãos. E acredito que isso é uma das coisas mais importantes que o gênero nos mostra.
O single "Sertão" vem sendo algo muito importante pra mim. Esse som marca minha chegada e mostra de onde eu venho. Gravei o violão de forma bem caseira com um celular. A música passa boas energias no sentido de viver, relaxar, sentir a natureza em nossa volta.
O suporte da Lo-Fi Brasil tem sido algo incrível pra mim. Quando eu ouvi o som depois da mix/master feita por eles, me encantei mais ainda som. Pequenos detalhes que deram mais "vida" e deixaram a música ainda mais incrível!
Tenho muitas referências dentro da música. Mas acredito que na produção, minhas principais referências são: J-Dilla, Quickly, Quickly e Monte Booker.
Como último comentário, queria agradecer a confiança de cada artista que se dispõe a ouvir nossos conselhos, buscar melhorias, e se envolver com a cena, já deixando claro que o intuito não é interferir na originalidade de cada artista, mas sim permitir que o máximo de cada um possa ser explorado, para obter um resultado satisfatório e motivar os artistas a irem cada vez mais longe nas suas produções.
Não deixe de conferir 'Seuab - Sertão', single que sai pelo Lo-Fi Brasil.
Anote aí: nessa sexta-feira 30/07!
Gostei muito.